sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Conselho apoia iniciativa de professor sem diploma

O Conselho de Educação Física de Sergipe, Cref-SE, parabenizou a iniciativa de um professor e também proprietário de uma academia localizada na periferia do Estado, onde os pesos e equipamentos utilizados são feitos com materiais recicláveis como pneus, garrafas pet, entre outros. A primeira vista parece uma idéia brilhante, principalmente porque no bairro onde a academia está localizada, a renda das famílias em sua grande maioria é muito baixa, o que sairia caro incluir no orçamento matrícula, roupas e acessórios para malhação. O Cref fez elogios ao excelente trabalho do jovem professor, que deveria servir de exemplo para outras comunidades e bairros carentes. Se não fosse um detalhe, o professor não é formado.

Em um galpão com pouca estrutura, o professor dá aulas e orienta os alunos quanto aos exercícios. Também tira dúvidas quanto ao uso de anabolizantes e a alimentação mais adequada. O proprietário da academia, nunca freqüentou uma instituição de ensino superior, não possui formação alguma que lhe conceda a licença para exercer a profissão de professor de educação física.

Ora, que tipo de fiscalização é essa, que parabeniza tal ação¿ A missão do Conselho é garantir o exercício da profissão dentro dos princípios legais que regem as ações profissionais, tendo como princípios a seriedade e a competência, visando atender o maior número possível de profissionais da área de educação física do Estado de Sergipe. O próprio código de ética e guia de princípios do CREF atestam para a qualificação dos profissionais da área. Sabemos o quanto é importante que um médico saiba o que está fazendo, assim como um cozinheiro, um advogado e porque não, o professor de educação física. Para isso, eles precisam passar por uma universidade e por avaliações que lhe dêem autoridade para praticar o ofício. Seria um dos pré-requisitos básicos antes de exercer qualquer profissão.

Exercícios mal feitos ou sem uma orientação adequada podem prejudicar a saúde. Qualquer erro pode chegar a ser fatal. O profissional de educação física deve ter segurança no que está fazendo e deve ter conhecimento e prática para socorrer um aluno. É cada vez mais comum a presença de pessoas nos consultórios de ortopedia com lesões, torções e até mesmo casos cirúrgicos provenientes de exercícios mal feitos, com uso de pesos inadequados, má postura, etc. Alguns casos são irreversíveis, principalmente quando envolve coluna. “Imagine uma pessoa saudável e por irresponsabilidade de outrem, ficar prisioneiro de medicações e até mesmo de muletas”, diz o médico ortopedista Luiz Carlos Lopes. “Foi o que aconteceu com um jovem de apenas 24 anos aqui em Sergipe. Praticando aulas de musculação, sobrecarregou um dos joelhos rompendo suas articulações, sendo necessária uma cirurgia para recompor os ligamentos. Até hoje não recuperou o movimento completo da perna”, completa o médico.

Outro ponto gravíssimo observado na matéria e citado anteriormente está relacionado ao fato desse professor fornecer informações sobre o uso de anabolizantes e informações nutricionais. Que especialização ele teria para isso¿ Sabemos de casos diariamente de pessoas que morrem devido ao uso inadequado dessas drogas.

Para que este tipo de incidente não aconteça, a fiscalização deve existir e ser efetuada em todos os estabelecimentos que praticam essa atividade. Deve haver profissionais formados e responsáveis por esses alunos em tempo integral de funcionamento da academia. Devem também estar aptos a solucionar qualquer eventualidade relacionada à saúde e ao bem estar dos alunos. As academias devem ter professores qualificados assim como determina o código de ética.

A iniciativa de abrir uma academia para pessoas carentes é bastante plausível, contribui com a sociedade para que jovens não entrem na marginalidade, tenham uma ocupação e até mesmo uma opção de lazer, desde que haja seriedade e acima de tudo responsabilidade dos profissionais envolvidos, o que, aliás, seria a base dos princípios cobrados pelo Conselho de Educação de Física.

Renata Ribeiro

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